Presidente do Belenenses exalta "dia histórico" com fim de diferendo com antiga SAD
O presidente do Belenenses, Patrick Morais de Carvalho, disse hoje à Lusa que o final do diferendo de uma década com a antiga SAD é “um dia histórico” para o emblema.
Morais de Carvalho reagia ao acordo global, hoje anunciado, entre clube e antiga SAD quanto a direitos de titularidade, encerrando um diferendo de vários anos.
Reforçando que esta cisão já tinha ficado plasmada no seu essencial no acórdão de 2022 do Tribunal da Relação de Lisboa, o dirigente notou que este acordo permite agora fechar outros “cinco ou seis processos judiciais” que ainda decorriam em vários tribunais, clarificando “totalmente a situação para o futuro e sossegando as gerações vindouras do Belenenses”.
Morais de Carvalho, de resto, lidera os destinos do Belém desde 2014, praticamente a década de litígio com a antiga SAD, depois de o clube perder a maioria do capital social em dezembro de 2012, uma “realidade tenebrosa”.
“É um movimento único a nível mundial, e fica o simbolismo de uma vitória do associativismo. O Belenenses está livre para poder seguir o seu caminho, eventualmente transformar a SDUQ [Sociedade Desportiva Unipessoal por Quotas] numa SAD, e arranjar argumentos para chegarmos de novo à I Liga”, afirmou.
Sobre a possibilidade de criar de novo uma SAD, esta “não pode ser descartada” pelo clube lisboeta, ainda que com “uma linha vermelha”, a de nunca vender a maioria do capital social.
“O poder radica nas assembleias gerais de sócios, é essa a tradição em Portugal. Há forte movimento de investidores [em Portugal], e a regra geral é as coisas começarem bem e terminarem mal. Já conhecemos esse filme, à segunda só cai quem quer. O próximo passo tem de ser cuidadoso e criterioso”, acrescentou.
A Lusa tentou contactar o presidente da BSAD, sem sucesso.
“O Clube de Futebol ‘Os Belenenses’ informa os seus associados, adeptos, simpatizantes e toda a comunidade desportiva que alcançou um acordo global com a antiga BSAD - Sociedade Desportiva de Futebol, que também já foi Piedade Desportivo SAD e é atualmente a Portalegrense, SAD (BSAD)”, pode ler-se em comunicado hoje divulgado.
Neste acordo, “a BSAD declara que não tem qualquer direito de titularidade, de uso ou qualquer outro sobre o nome, as marcas, os símbolos, o hino, o lema, a história e qualquer outro elemento figurativo (Cruz de Cristo) ou nominativo (Belenenses, CFB ou Belém) do património material ou imaterial”, bem com o “elementos confundíveis com os mesmos”.
Da mesma forma, o palmarés das equipas que atuavam sob a BSAD entre 12/12/2002 e 30/06/2018 pertencem ao Belenenses, por terem jogado no Estádio do Restelo, em Lisboa, apresentando-se como sendo o clube e com a Cruz de Cristo ao peito.
Em síntese, o clube que atualmente milita na Liga 3 conseguiu, afirma, “recuperar o futebol profissional”, separar-se da BSAD e “constituir uma nova sociedade desportiva, limpa de passivo”.
Em 2014, foi rescindido o acordo parassocial entre clube e SAD, gerando um ‘divórcio’ que se arrastou durante uma década, com a BSAD a partir para o Estádio Nacional, no Jamor, em 2018, e o Belenenses a formar uma equipa para competir na distrital de Lisboa.
A separação jurídica sucedeu em 2019, com uma venda de 10% de participação social na sociedade anónima que o Tribunal da Relação de Lisboa confirmou em 2022, fechando agora um capítulo no histórico emblema português.
A BSAD disputou quatro edições da I Liga, entre 2018/19 e 2021/22, quando foi despromovida ao segundo escalão, acabando por descer desportivamente à terceira divisão, mas, depois de falhar o licenciamento, foi relegada para os distritais de Setúbal, na sequência do acordo com o Cova da Piedade.
Esta época, a antiga BSAD juntou-se ao Portalegrense, para disputar as competições deste distrito alentejano, que lideram atualmente.